Eu não sei exatamente quando começar a minha história, por que se eu for
escrever desde a primeira vez que eu passei por algo sobrenatural, eu escreveria
um livro inteiro.
Eu tinha 4 anos (tenho 33 agora) quando os meus pais compraram a casa em que
eles ainda vivem hoje. Eu me lembro quando vi a casa pela primeira vez,
imaginando que era muito grande e muito assustadora. E mais tarde acabaria
descobrindo que eu estava certa. Era terrivelmente assustadora.
Durante a minha infância e a minha adolescência, eu fiquei em 3 quartos
diferentes na casa. Um eu dividia com a minha irmã mais velha quando nós éramos
ainda bem novas. Não era muito assustador, mas também, eu quase nunca estava
sozinha nele. O segundo quarto que eu tive era um quarto pequeno, no andar de
cima, no fundo da casa. Até hoje eu não gosto daquele quarto. A minha mãe usa
ele como um quarto de costura agora. Eu não entro nesse quarto. O último quarto
em que eu fiquei nessa casa, foi um quarto grande na parte de frente da casa,
que ficava de frente para outro quarto grande, onde a minha irmã dormia. Este
quarto possuía uma certa "atividade" sobrenatural, mas nada ameaçador, como no
quarto menor que eu tive antes. Eu tenho muitas histórias sobre esses dois
quartos, mas não vou falar sobre elas agora.
Depois de 13 anos em um casamento infeliz e de um divórcio amargo, eu acabei
voltando a morar com os meus pais. Eu fiquei com o ultimo quarto em que eu
fiquei na casa, o quarto grande na frente, no andar de cima. Eu estava nervosa
por estar lá, já que na minha infância e adolescência eu nunca dormi sozinha lá
em cima. Quando a minha irmã não estava em casa, eu dormia no andar de baixo,
junto dos meus pais. Mas sendo uma pessoa adulta agora, eu me convenci de que
quando eu era criança eu imaginava as coisas que aconteceram comigo, e acabei me
acomodando no meu quarto sem maiores problemas. Eu imagino que quando você fica
mais velha e trabalha de 9 a 10 horas por dia, e chega em casa e dorme de
exaustão, as coisas estranhas que acontecem de noite não te perturbam muito. A
minha mãe também acha que toda a atividade paranormal tem algo a ver com as
crianças, já que ela nunca mais viu nada de estranho acontecer depois que eu e a
minha irmã nos casamos e saímos de casa. E eu acabei me convencendo disso
também, por causa de algumas coisas que aconteceram ultimamente, quando o meu
filho de 13 anos está em casa.
O meu filho me falou a alguns meses atrás que não gosta de ficar sozinho no
andar de cima da casa, pois parece que tem sempre alguém olhando ele, e ele ouve
alguém subindo e descendo a escada o tempo todo. Mas o que me chocou foi o
comentário dele sobre o quarto pequeno no fundo da casa, aquele que eu não
gosto. Eu nunca falei sobre nada desse quarto para ele, e até onde eu saiba, ele
não sabe que um dia aquele já foi o meu quarto. Ele falou que parecia que alguma
coisa não queria ele naquele quarto. Sempre que ele está no corredor indo na
direção do quarto, ele fala que sente calafrios pelo corpo. Eu tentei não me
preocupar muito e falei para ele que era impressão dele, por que o quarto era
pequeno e claustrofóbico. Eu não vi motivo nenhum para assustar ele. No entanto
eu não posso esquecer algumas coisas que aconteceram a algum tempo atrás. O meu
filho tem um sério problema de sonambulismo, e por causa disso, somado à escada
íngreme que tem em casa, ele dorme no mesmo quarto que eu.
É um quarto grande, com espaço de sobra para duas camas grandes, um armário para
ele e um para mim, uma TV, um aparelho de som e ainda sobra espaço para andar
pelo quarto. A minha cama é mais perto da porta, assim eu posso pegar ele se ele
tentar sair andando do quarto enquanto dorme. A cama dele fica do ouro lado do
quarto, fazendo um ângulo de 90º com a minha, de um jeito que a cabeça dele fica
apontada para os meus pés.
A alguns meses atrás, eu acordei de noite e vi uma mulher estranha em pé do lado
da parede ao pé da cama do meu filho. Ela estava olhando para ele, não para mim.
Ela estava em um lugar onde ela teria que ter uns 10 centímetros para poder
caber ali, entre a cama do meu filho e a parede, e ela parecia ser feita de uma
espécie de nuvem escura. Não dava para notar muita coisa sobre ela, só que ela
tinha longos cabelos negros até o meio das costas.
Essa não foi a primeira vez que eu acordei e vi uma figura estranha nesse
quarto, mas foi a primeira vez que eu vi uma mulher. Eu fiquei nervosa, mas
acima de tudo fiquei louca da vida. Já é ruim quando essas pessoas, coisas, me
incomodam. Mas sendo mãe, vendo aquilo tão perto do meu filho me deixou com o
sangue fervendo, pensando que eles começariam a incomodar o meu filho. Então num
tom baixo, mas firme, eu disse "Não! Deixe ele em paz. Ele é só uma criança. Vá
embora agora!!" Eu então levantei e acendi a luz, e na mesma hora a figura
desapareceu. O meu filho não acordou, e relutantemente, eu voltei a dormir, e
não falei nada sobre isso para ninguém
Duas noites depois, o meu filho me acordou da cama dele falando "Mãe, ela está
olhando para mim!" Eu abri os olhos e vi ela, a mesma figura de antes, e estava
no mesmo lugar. Esperando que o meu filho estivesse adormecido o bastante a
ponto de não se assustar muito, eu calmamente falei "Apenas fale para ela ir
embora e te deixar em paz, e que não é feio ficar olhando as pessoas dormirem."
Eu ouvi ele dizer em um tom firme, mas ainda meio confuso "Vá embora, o que você
está fazendo não se faz. É falta de educação." Eu pisquei um pouco os olhos
ainda um pouco adormecidos e então ela desapareceu. Nós dois voltamos a dormir e
a noite seguiu sem nenhum problema. Eu esperava que ele não se lembrasse de nada
no dia seguinte, mas quando ele acordou, ele me perguntou quem era aquela mulher
que estava incomodando ele na noite anterior (não foram as exatas palavras dele,
eu limpei um pouco o linguajar que ele usa). Eu tentei convencer ele de que ele
estava dormindo, mas ele não acreditou. Ele lembrava claramente de mim falando
para ele dizer a ela para o deixar em paz.
Nós decidimos deixar para lá e não pensar mais no assunto, já que a mulher nunca
mais voltou. Eu não sei o que no meu filho atraiu ela, mas eu acho que ela
precisava ouvir da boca dele que ele não a queria vendo ele dormir.
Essa não foi uma das piores situações pelas quais eu passei. Existe algumas
MUITO mais assustadoras do que essa, mas fica para outra vez. No futuro eu mando
mais histórias sobre a minha infância naquela casa.
Maria Fernanda - São Paulo - S.P.